John Woolman: O Quaker que impulsionou o movimento abolicionista

Claudia Masiero
5 min readNov 29, 2020

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O Quaker abolicionista John Woolman mudou a maneira como as pessoas viam a escravidão. O dia 19 de outubro foi o 300º aniversário de seu nascimento.

A data de 19 de outubro de 2020 marcou o 300º aniversário do nascimento de John Woolman, um filantropo que desempenhou um papel fundamental na abolição da escravidão. Um João Batista em matéria de abolição, lançou as bases do movimento contra a escravidão.

A história de Woolman não é tão conhecida como a de Thomas Clarkson e William Wilberforce. Wilberforce, como membro da Câmara dos Comuns em Londres, apresentou anualmente, durante 18 anos, o projeto de lei para acabar com o comércio de escravos, até este ser finalmente aprovado em 1807. Clarkson e seu grupo de reflexão, a Sociedade para a Abolição do Comércio de Escravos, tinham recrutado Wilberforce e montado uma campanha de sucesso para promover a causa. Contudo, quando Clarkson e 11 Quakers se reuniram para criar a Sociedade, em 1787, foi a John Woolman (1720–1772) que eles agradeceram pela inspiração.

Devido ao papel chave desempenhado pelos quakers no movimento abolicionista, tanto na Grã-Bretanha como na América, podemos pensar que esses pacifistas compassivos sempre estiveram do lado certo da história. Mas não foi sempre assim. A escravidão era comum, antiga e presente em todos os continentes, exceto na Antártica no início do século 18, mesmo entre os quakers. Mesmo os africanos escravizaram outros africanos e venderam seus escravos a quem ofereceu a maior oferta. Assim como certas tribos nativas americanas. A escravidão era ubíqua.

John Woolman nasceu em uma família quaker em 1720, em Rancocas, Nova Jersey. Trabalhando como empregado em uma pequena empresa local, aos 23 anos de idade, seu empregador lhe pediu que preparasse uma nota de venda para um escravo. Uma espécie de contrição fez Woolman refletir: escravidão era inconsistente com os princípios do cristianismo, instou, embora fizesse o que lhe foi pedido. Essa era a conjuntura: um compromisso pessoal no comércio de escravos, a partir da qual uma paixão para toda a vida despontaria.

Três anos depois, um amigo pediu a Woolman que escrevesse seu testamento, incluindo uma cláusula para a transferência de propriedade de um escravo. Woolman não só recusou, mas convenceu seu amigo a libertar o escravo. Ao manter homens e mulheres em escravidão, ele argumentou, ofende-se profundamente a ética do cristianismo, e coloca-se em perigo a própria alma do proprietário dos escravos. Nesse mesmo ano (1746), Woolman empreendeu uma jornada ministerial de três meses e 1.500 milhas, durante a qual pregou sermões sobre cristianismo e anti-escravidão ao público quaker da Nova Inglaterra à Carolina do Norte.

De um diário que registrava fielmente (e que ainda hoje é publicado), sabemos que, onde quer que Woolman fosse, ele praticava o que pregava. Se recebesse pouso, refeições ou qualquer assistência de um proprietário de escravos, Woolman pagava pessoalmente aos escravos por qualquer trabalho que eles realizassem em seu nome. Ele não usava pratos, copos ou utensílios de prata, pois acreditava que eles eram produto do trabalho escravo. Apelava às consciências dos proprietários de escravos e, surpreendentemente, persuadiu muitos a libertarem seus escravos e denunciarem a instituição da escravidão humana.

Em 1754, Woolman publicou um poderoso e influente tratado intitulado “Algumas considerações sobre a propriedade de negros”, no qual ele declarou:

Supor que é correto um homem inocente ser excluído das regras comuns da justiça; ser privado daquela liberdade que é o direito natural das criaturas humanas; e ser escravo dos outros durante a vida… é uma suposição muito grosseira para ser admitida na mente de qualquer pessoa que deseje sinceramente ser governada por princípios sólidos. Que a liberdade do homem foi, pelo Legislador inspirado, considerada preciosa, aparece nisto: que aqueles que injustamente privaram os homens dela deveriam ser punidos da mesma forma como se tivessem assassinado. Aquele que rouba um homem e o vende, ou o mantém consigo, certamente será condenado à morte. Esta parte da lei era tão considerável que Paulo… acrescenta que [a lei] foi feita para os roubadores de homens (como descrito em I Timóteo 1:10).

Woolman morreu na Inglaterra em 1772, aos 51 anos de idade. Contudo, plantara tantas sementes abolicionistas em ambos os lados do Atlântico que, em uma década, a escravidão entre os Quakers tornou-se história. Os Quakers foram a primeira comunidade cristã a promover uma cruzada pela abolição. Eles foram os primeiros aliados de Clarkson e Wilberforce, e o povo que ambos heróis abolicionistas consideravam como amigos indispensáveis da causa.

John Woolman, praticamente sozinho, mudou a Janela Overton entre os Quakers, que mais tarde se tornaram os principais motores dessa mudança para toda uma nação. A Grã-Bretanha acabou com o tráfico de escravos em 1807 e com a escravidão em 1834. Seus esforços nos Estados Unidos ajudaram sobremaneira a alcançar o mesmo fim, embora anos depois e após a infeliz circunstância da Guerra Civil.

Na mente do público, o que antes era impensável — a abolição — passou a ser apenas radical, depois aceitável, então sensato, logo popular e, finalmente, político. As idéias têm conseqüências, como ilustra o trabalho de John Woolman.

Neste tricentenário de seu nascimento, celebremos o legado de John Woolman!

Para maiores informações, acesse:

Presentism” Imperils Our Future by Distorting Our Past por Lawrence W. Reed

An Open Letter to All Americans por Lawrence W. Reed

Thomas Clarkson: A Moral Steam Engine That Never Quit por Lawrence W. Reed

You Can Never Again Say You Did Not Know por Lawrence W. Reed

Uniquely Bad, But Not Uniquely American por Kay S. Hymowitz

Some Considerations on the Keeping of Negroes por John Woolman

The Journal and Major Essays of John Woolman, Phillips P. Moulton, editor

A Near Sympathy: The Timeless Quaker Wisdom of John Woolman por Michael L. Birkel

John Woolman’s Path to the Peaceable Kingdom: A Quaker in the British Empire por Geoffrey Plank

John Woolman, American Quaker por Janet Whitney

Woolman Central y The John Woolman Memorial.

Traduzido de John Woolman: El cuáquero que impulsó el movimiento abolicionista. Originalmente publicado em Fundación para la educación económica. Autor: Lawrence W. Reed. Créditos da imagem: Photo by Dirk Spijkers on Unsplash

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